Ecdise

A luz voltou. Finalmente, estava muito escuro. A visão só alcançava poucos palmos a frente. Os outros sentidos afloraram, e o tato virou o primeiro contato com qualquer coisa que estivesse a frente. Já era tarde, e a chuva insistia em cair. Árvores caíram, fios se rompiam, deixando tudo fora do ar.

Nada de internet, nem TV, nem rádio. O barulho da chuva acalma e trás um relaxamento a mais pra mente. Começo de ano é cheio de “promessas de prefeito”. Sempre a mesma coisa, sempre a mesma ladainha. Junto com a velha pressão de recomeçar, de mudar.

Aos lúcidos, a taxação de loucos. Homens que mais parecem zumbis do consumismo dominam as ruas, os transportes. Carros são 80% da frota, e levam 20% da população. Rouba, machuca, consome e afasta. SP é muito grande, e quanto maior ela se torna, mais infernal ela fica, mais caótica ela fica, mais babilônica ela fica, mais desigual ela fica. O caos bate na porta e dorme, sempre.

As coisas vão acontecendo conforme a música, e a gente dança conforme ela muda. Tudo tem o sem tempo, mas sempre rolam os imprevistos. Requer improvisação, jogo de cintura, molejo e confiança. No final, será recompensador olhar pro horizonte e analisar friamente o passado.

Mudanças sempre nos acompanham e são necessárias, quem tem medo delas nem deve se arriscar a viver. Entender os desejos e os sonhos ajuda na hora de saciá-los. Entender como funciona e como de fato tornar tudo real. Talvez o mais difícil desse ciclo da vida seja o desapego. O que é feito pra esquecer, no fundo só faz lembrar. E pequenas coisas do nosso dia a dia também reascendem lembranças de momentos que marcaram de certa forma.

Quem não deixa o que não basta não descobre o que lhe falta. O tempo passa, a vida atrai e afasta, amigos antigos se tornam velhos conhecidos, antigos amores se tornam antigas dores. Experiência, frieza e foco. Demora-se pra entender e aprender com as situações que a vida nos apresenta desde a hora em que abrimos os olhos todos os dias.

Sempre é hora de mudança. E nada melhor do que fazer isso no Outono…



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EU?

Músico, escritor, inquieto e hiperativo. Meu joelho treme no frio e minha pálpebra treme quando to no limite. Um café e um cigarro caem bem. Bateria pra aliviar e conectar, música pra sorrir e deixar fluir. Gratidão nem sempre vem, mas sempre tem.

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